26 de maio de 2010

As línguas mudas se confessam no roçar dos dedos. O universo real do verbo é onde as hipóteses se concretizam sob a máscara torta do signo. A memória é a fumaça do cigarro entre esses dedos. É a substância que invade o corpo num trago e se esvai c'um sopro forte. O que fica é alimento para o câncer. O meu pai morreu disso e as minhas feridas choram até hoje não ter-lhe beijado a mão. Essas feridas que sangram poesia densa, de sintaxe prolixa, muda. Será que mudam? O maior pecado é amar. Não o pai. Não a vida. Amar a Poesia ou o que dela era matéria. Os Deuses tolos não deram conta das profecias. Tudo hipótese velada entre os dedos.
A Musa, esta sim poderia reviver. Mas, é morta, Inês. É cinza de cigarro tragado, em noite boêmia, na cama das putas. É a fumaça muda que corrói o corpo. É a dor da língua que silencia para ser feliz. Mas os olhos não mentem: está no texto.

Um comentário:

Susanna disse...

Muito legal este espaço de "besteirinhas liricas". É isso aí: há de se projetar em palavras antes que elas sequem na garganta!
Bj!

Obrigada pela visita no meu blog! Aterrisse qd quiser...