10 de setembro de 2009

A criança tola arrastava o carrinho ladeira acima, distraída com papagaios que volitavam no céu, sujeitos a serem cortados pelo cerol. O negrinho saiu de trás do barraco, sacou o canivete e cortou o cordão do carrinho da criança. Foi no tempo de não sentir o peso do brinquedo e se voltar para constatar o ocorrorido, que o berreiro se abriu, as pernas sujas de pés descalços bambearam, e os olhos razos d'água contemplaram o coletivo esmagar o carrinho no fim da ladeira. O negrinho degustava um pirulito vermelho e via tudo com olhos cândidos. A criança quis lhe revidar, mas intimidou-se ao ver o canivete friamente empunhado pela mão do pixote. Este, como se não bastasse ter nascido, fora abandonado. Pior sorte teria se sofresse a rejeição ou o abuso de um padrasto bêbado. A vida lhe trouxera as virtudes de um mundo amargo, duro, e ao mesmo tempo deleitoso.
Enquanto a criança corria e escorregava no esgoto que descia a céu aberto rumo aos pés do morro, o negrinho ria e gozava em seu prazer inocente. Era o arcanjo de um mundo desprezível, filho de um criador que chupa pirulitos vermelhos, enquanto seus bastardos brincam de viver.

Um comentário:

Kelly \o/ disse...

Nossa.. fiquei até triste em ler isso.. Maravilhoso, amor, como tudo o q vc faz! ^^ Congrats! Beijos ♥