À beira do lago, sete sapos seresteiros se reúnem pra noite da cantoria. A lua brinca no espelho escuro, enquanto estrelas aguardam sorridentes. No dentro da água, espreitam peixes. A Iara mãe confabula sobre a régia vitória duma tartaruga, que ficou no lugar de destaque na contação dos causos de Boitatá.
Os sapinhos todos com as violas em punho. Papos a postos, coaxos beijam o silêncio. Vez em quando, a fazer graça, pulam no compasso da seresta. As estrelas em frenesi. O coaxado ecoa do cerne da mata, atravessa o dentro d'água, pula no coração dos peixes, enternece a Iara mãe e desliza, de galho em galho, ao todo sempre do infinito verde.
Ali no acolá da floresta, o Uirapuru perde o sono. Voa à beira do lago e espreita a cantoria. Sorri ao ver as estrelas embevecidas. Ouve e se deleita. Os sete sapos seresteiros continuam. Cantam a terra, o rio, a mata. Cantam o amor dos animais, a vida dos espíritos. O Uirapuru murmura algo para si. No seu peito o silêncio é o canto que ecoa. Observa para apreender a beleza do momento. Pensa que quer ser um sapo seresteiro. Talvez assim pudesse cantar mais, ultrapassar o limite da necessidade e do querer cantar apenas no tempo propício de sua existência.
Mas o Uirapuruzinho é condenado ao silêncio. O seu canto é raro e precioso. Por isso, quando na raridade de cantar, o mundo silencia para ouvi-lo. Mas, no tempo de quieta voz, quem o escuta? Ninguém sabe a dor que o silêncio faz. Pensa, então, que devesse romper a quietude de si e cantar além da seresta dos sapos; mas fica parado. No seu peito, a vontade de soltar o canto. Mas o canto é silêncio e solto está. Percebe? Não pode... Afrontar espíritos ancestrais poria a cabo sua condenação por outra ainda pior. Deixa ser o silêncio dor e beleza enquanto os sapos cantam. No fundo de sua alma, o Uirapuru sabe que mesmo quieto alguém o ouve.
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