O inverno insistiu em ficar. Debruçou o silêncio sobre as flores. Na gare, a Vida espera o trem. Há tempos... No prato de sopa, o reflexo dos olhos: oceanos sobre as letrinhas de macarrão. Há verão no coração, mas os dedos só expressam outono. O que a Vida não sabe é que a primavera dormita nas fagulhas do desejo. Nem uma mosca viria para o jantar. Até chegar João, no trem terceiro, atrasado, vertendo pela chaminé fumo cansado do corre trilho. Mas João não ficou para o jantar e os olhos da Vida continuaram no oceano das letras.
Do outro lado, o verão lagarteava na alma. Mas não havia trem que nos levasse à areia. Há tempo... O inverno insistiu em ficar. Debruçou silêncio sobre as flores. Bem sabes. E a primavera está no inverno. Os dedos só expressam outono. O que a Vida sabe, é que João, mesmo atrasado, afogou no oceano as letrinhas da sopa. Havia tempo, murmuramos. Mas a gare estava vazia. Nem uma mosca para embarcar. O trem não haverá de passar. Na gare, só a bagagem e a bruma, enquanto letrinhas esfriam no prato de sopa frente aos olhos do oceano.
2 comentários:
Como vc um dia disse: o inverno passa!
Vc e suas sempre pertinentes observações.... ;)
Postar um comentário