Deitada, o que escorria sobre o travesseiro não eram lágrimas. O árduo do dia sobre a pele. Os olhos em coma. Descia ao vale dos devaneios pensando chagas. O bálsamo que a envolvia, longe da culpa e do remorso, era a consciência de ser consciente. E todo o tormento que lhe causava dores, pobre Melina, vinha do saber. Os olhos de menina doce escondiam a certeza da dúvida. O caos do seu presente era um porvir. Um croqui amassado. Rascunho de Deus. Mas hoje ela foi decidida. Ontem. Decidira ontem. Foi e esbravejou contra as colunas do templo. Não queria perdão, mas encarar a face do Deus. E as colunas se fizeram imóveis enquanto o mantra ecoava. Sempre assim. Parou de orar. A vida é aqui. Conclui. O sorriso na escuridão do coma e a liberdade... A liberdade, Melina, é só um sonho, um eco nas escrituras. E o que escorria, por fim, no travesseiro da menina, eram as palavras do Deus: Melinae, quia peccavi nimis cogitatione verbo, et opere: mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa...
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