Eu matei Alice, confesso. Assassinei-a com meus próprios olhos, com a ponta da língua que tudo cria. Com essa linguagem que confere a tudo o toque do real. Não me acuse de sadismo ou vaidade. Auto-preservação é lei dos deuses. Alice não era um deus. Matamos os mais fracos, os indecisos, aqueles que flertam com os reles mortais quando bebem do leite de Dionísio. Ela tinha olhos tristes. Mas a tristeza dos olhos era um canto rude, impreciso, o esgar do último cisne sacrificado. Nem uma flor nasceu das gotas de seu sangue. Nem as línguas dos coiotes famintos alcaçaram seus despojos. Alice envenenou-se. Eu a matei com seu próprio veneno. Por isso não me acuse de ser sádico. Se a tivesse deixado viva, cega, talvez sádico eu seria. Mas ela não era digna do destino heróico. Sempre foi fraca. Não era um deus. Eu sou o deus. Meu destino escrevi para criar, criar, criar. Então posso matar e reviver os seres quantas vezes quiser, se quiser. Alice morreu de vez e até o fantasma sucumbiu ao veneno. Para ela, nem vermes, nem flores, nem nada.
5 comentários:
Também nunca gostei do país das maravilhas.
Tadinha da Alice, mas eu sempre a imaginei diferente, sempre a vi cansada da perseguição do coelho e de deixar o destino a levar, sempre a vi com armas em punhos e decisões a serem tomadas!
ps: meu computador chama Alice =P
Heuhauehauheuaheuha... Tenho um amigo cujo PC chama Sophia.
Mas a minha Alice é uma metáfora. ^^
confesso que ontem, meu caro amigo, tive a certeza de que o que me falta é matar alice, esta alice. preciso torná-la, definitivamente, aquela alice. a do outrora, do ontem. talvez um modo que me venha ajudar nesse crime sem castigo seja a linguagem [mas a escrita, porque a falada está, cada dia que passa, mais fadada à extinção].
gostei demais do texto.
Alguém que lê como se deve!
=D
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