23 de julho de 2010

de mim para o Outro

Eu sou isto: este container de Pandora sob o sol. Dentro, maçãs azuis. Na minha face desliza o carinho do escremento das gaivotas. Aos meus pés, o mijo dos marinheiros. Vejo nas docas as prostitutas, os travestis, os amantes e os mendigos. Vejo o sexo ao rés do chão. Nada me dói. Nem essa ferrugem que me carcome as cantoneiras, nem esses mariscos que apodrecem sob mim. Contemplo o porto, o mar. Os navios que partem com suas pesadas âncoras. Sinto um verme que se agita numa maçã. Ele tem olhos verdes onde repousa a tristeza de uma esperança devassa. Escorre por minhas frestas o chorume do fruto podre. O verme desliza. Espia pela fresta e ganha o cais. Está vivo.