22 de junho de 2010

A mala

(para o Giovanni)

Abriu a mala e deparou-se com o passado. Os olhos louros da peruca, o boné torto, a adaga de gume cego, o mofo esquecido no figurino e a identidade distraída do Outro. Não é triste. As lembranças brincam no carrossel da memória e riem iguais crianças com a boca cheia de algodão doce. Lá no distante além, alguém dorme enquanto um infante chora. Imaginamos a vida ali. Vidas outras que se refazem na ordem natural das coisas, da fantasia, daquilo que foi e deixou de ser para ser novamente o que não é mais. O ombro amigo ri das peças do destino enquanto o fumo leve do cachimbo invade o som da poesia. Tudo rito no solo de Dionísio. Tudo na mala, o mundo e aquilo que permite ser.

Um comentário:

Everton disse...

Pois este foi um belo texto.